Foto: Eduardo Alonso
Foto: Eduardo Alonso
Meu primeiro ídolo da TV foi Jerônimo, o Herói do Sertão. Depois, me apaixonei por Marília Pêra, fazendo Supermanoela*. As duas, novelas da década de 1970 — uma, na extinta TV Tupi; a outra, na TV Globo. Qualquer mundo que não fosse o real era onde eu queria viver. Eu lia tudo: de revista em quadrinhos a Mazo de La Roche, de Julio Verne a Mark Twain. Mais tarde, me perdi em Edgar Allan Poe e foi aí que, pela primeira vez, pensei em escrever. E rabisquei. Mas ainda era um derrame envergonhado de necessidades desordenadas em cadernos secretos. Aí, conheci Thomas Mann, Machado de Assis, Balzac, Simone de Beauvoir, Stendhal, Dostóievski, e mais um tanto de gente e estilo e história, que pensei: tá decidido, quero viver embrenhada em personagens. Fui pro teatro. Depois pra televisão. Como atriz, fui doméstica, vampira, jovem amargurada do século XVIII, grávida portuguesa, assassina, personal stylist, mulher obcecada de amor. Até que percebi que ser autora era ser atriz quantas vezes eu quisesse. Era a rua que eu escolhesse, a hora que meu relógio marcasse, as juras de amor que eu declarasse. Tirei os cadernos da gaveta, as pessoas da imaginação, e saí empilhando gente nas páginas em branco. Gula. Pecado capital. Sempre cometi: um bombom é pra quem já nasceu doce. Pros famintos, feito eu, só a caixa inteira.
* Pros jovens que vierem parar aqui e não fazem ideia de quem sejam Jerônimo ou Supermanoela: